As equipes do Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) e da Unidade Básica de Saúde (UBS) de Antônio Pereira construíram uma parceria inédita no distrito.
A proposta de parceria consiste em realizar a integração dos cuidados relacionados à saúde física, à saúde mental e à assistência social da comunidade atendida pelos dois equipamentos públicos. Com isso, o Sistema Único de Saúde (SUS) e o Sistema Único da Assistência Social (SUAS) se fortalecem dentro da comunidade que lida, cotidianamente, com os danos causados pelo risco de rompimento e obras de descaracterização da Barragem Doutor, entre outros agravantes gerados pela mineração predatória.
Com a integração das duas redes, são oferecidas, semanalmente, oficinas e rodas de conversa com foco na saúde da mulher e na saúde mental da população, abertas à participação da comunidade, sempre às quartas-feiras, a partir das 13h30, no CRAS.
O encaminhamento de usuários de uma para a outra rede também será facilitado com a parceria, de modo que, se o CRAS perceber alguma necessidade de saúde do usuário, encaminha para a UBS e se a UBS perceber alguma necessidade socioassistencial no paciente, encaminha para o CRAS.
Tecendo Redes: saúde e assistência social em Antônio Pereira
A integração das redes vem num momento em que a comunidade celebra uma conquista histórica, fruto de muita luta e organização popular: a ampliação do horário de atendimento e a implementação de uma sala de estabilização na UBS Antônio Pereira. A mudança começou a valer no dia 10 de março, quando o Posto de Saúde de Antônio Pereira ou a funcionar todos os dias das 7h às 19h. De acordo com o secretário de saúde do município de Ouro Preto, Leandro Leonardo de Assis Moreira, a população do distrito “não precisará mais se deslocar para serviços de urgência em outra cidade ou até mesmo para Ouro Preto”. Ele informa que a farmácia também funcionará 12 horas por dia. Além da ampliação do horário, a UBS conta agora com uma sala de estabilização com equipe própria para atendimentos de urgência e emergência.
A população de Antônio Pereira denuncia há tempos os graves danos à saúde física e mental causados pela mineração predatória. Aliadas potentes nessa luta, Maria Helena Rocha Ferreira e Rafaela Rosa são, simultaneamente, integrantes da Comissão de Pessoas Atingidas de Antônio Pereira e do Conselho Municipal de Saúde de Ouro Preto. Elas nos falam um pouco mais sobre essa conquista e sobre a importância da luta e da participação popular na garantia de direitos.
Eu acredito que a ampliação do horário de atendimento vai trazer para as pessoas um certo conforto de saber que caso elas em mal, elas vão ter essa opção de atendimento, pelo menos pelo horário proposto aí diretamente na comunidade. E eu acredito que ampliar o horário vai dar para gente essa facilidade mesmo no atendimento das demandas da comunidade que sempre foram muitas. Mas cabe à saúde pública, cabe ao município, cabe ao prefeito dar conta disso. É essa tentativa que eles estão fazendo e agora é a gente usufruir desse direito que tá aí para todos.
A importância dessa sala de estabilização é porque a equipe que atende nessa sala, ela ou a atender as emergências, as urgências das emergências da unidade. Com isso, retirando esse serviço da equipe da família, a equipe da família terá um tempo maior para que ela possa exercer as suas funções, que é realmente visitar as famílias, visitar os pacientes, dar uma assistência maior. Melhor ao tratamento da família, como é a proposta do SUS para a equipe do médico da família.
Como a gente está na Comissão dos Atingidos, a gente fica conhecendo e aprofundando mais nos problemas da comunidade, em especial, porque a Comunidade de Antônio Pereira, que é a comunidade atingida por barragem de mineração, os maiores problemas estão na saúde, na saúde física e na saúde mental. Como a gente fica conhecendo melhor os problemas, a gente tem condição de discutir com mais fundamentação, com mais propriedade, esses problemas dentro do Conselho da Saúde, que é onde há as liberações das políticas públicas.
Estando envolvida na comunidade, estando de frente para os desafios que aparecem na área da saúde, a gente consegue ser porta-voz, consegue ser mediador dessa garantia de direitos. Então, ter duas pessoas, principalmente, que conseguem verbalizar sobre os incômodos, não só a partir de um lugar de dor, mas a partir de quem entende que se nós temos direitos, a gente precisa ar esses direitos. E como é que a gente faz isso? A gente leva as lutas para os lugares onde a gente sabe que a nossa voz vai ser ouvida e a gente vai ter a devida atenção e cuidado a partir das queixas que a gente leva. Então eu vejo assim, um super avanço ter a possibilidade de levar as dores da comunidade, principalmente no quesito de saúde, que novamente são muitas, para quem entende do assunto e para quem pode fazer alguma coisa a respeito. Que é bem dessa forma como eu vejo o espaço de troca dentro do Conselho Municipal de Saúde.
Então, assim, é de vital importância que tenha nesses conselhos, não só no Conselho da Saúde, mas também no Conselho do Codema, que é do Meio Ambiente, Patrimônio Histórico e tantos outros conselhos, é que tenham pessoas da comissão de atingidos nos conselhos municipais para que possa´, com propriedade, levar os problemas e discutir esses problemas, trazendo para o distrito as políticas públicas que atendam às necessidades do distrito, que com certeza são diferentes das necessidades, das demandas de outros distritos que não são atingidos pela mineração, que não são atingidos inclusive por barragem de rejeito de mineração. Então eu vejo que aí está a importância. E a gente consegue também, através do conselho, a gente trazer um para a comunidade, dizendo para a comunidade que o que vai ser feito, o que está sendo feito, o que nós estamos buscando junto com a comunidade, e aí consegue essa interface, essa parceria boa da comunidade com a comissão dos atingidos. Da comissão dos atingidos diretamente no conselho, com a Secretaria de Saúde e outras secretarias. Penso que toda a comunidade ganha quando a gente consegue fazer essa participação, essa estrutura de participação.
Saiba mais sobre as redes de saúde e assistência social que atendem Antônio Pereira na série ‘Tecendo Redes”, produzida por nós, do Instituto Guaicuy. e:
Tecendo Redes: saúde e assistência social em Antônio Pereira
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