Pessoas atingidas reivindicam seus direitos em frente ao TJMG enquanto Ministério Público busca acordo com mineradora para garantir ATI, Cadastro e Matriz de Danos para comunidade de Antônio Pereira (Ouro Preto/MG)
“Queremos Justiça!” Esse foi o grito que saiu das gargantas dos 14 interlocutores da Comissão de Pessoas Atingidas de Antônio Pereira que foram até o Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), em Belo Horizonte, na manhã de hoje, 9/4. O grupo se deslocou até a capital mineira na tentativa de participar de uma audiência de conciliação entre Ministério Público do Estado de Minas Gerais (MPMG) e a Vale, mas a mineradora frustrou suas expectativas.
Ao impedir a participação da Comissão na audiência de conciliação, a Vale aceitou apenas o breve pronunciamento de uma pessoa atingida, que teve dois minutos de fala e foi retirada da sala a pedido da mineradora. “Nós, que somos moradores de um distrito atingido por barragem de mineração da Vale, somos obrigados a ficar aqui do lado de fora!”, indigna-se Maria Helena Rocha Ferreira, integrante da Comissão de Pessoas Atingidas de Antônio Pereira. “Nós estamos aqui ando a vergonha, a humilhação de não poder nem adentrar o prédio do Palácio da Justiça. E tem pessoas que ficaram na nossa comunidade em situação ainda muito pior e muito mais vulnerável”, completa a moradora.
Maria Helena Rocha durante manifestação. Imagem: Hariane Alves / Instituto Guaicuy
Partiu do MPMG a tentativa de acordo com a mineradora Vale, ré no processo que trata da reparação dos danos causados pelo risco de rompimento e obras de descaracterização da Barragem Doutor. Contudo, o MPMG pediu ainda que a audiência fosse mediada pela própria juíza Kellen Cristini de Sales e Souza, mas em seu despacho ela encaminhou que a audiência acontecesse em Segunda Instância, no Centro Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania (CEJUSC). A Dra. Kellen participou da audiência de 2º instância como convidada da desembargadora que presidiu a sessão. A busca pelo acordo se dá após uma decisão judicial em primeira instância, proferida pela juíza Kellen, determinando que o prazo do GEPSA para entrega do Cadastro, Matriz de Danos, Diagnóstico Socioeconômico e Plano de Reparação Integral da comunidade não poderá ser prorrogado para além de julho de 2025, na decisão ainda houve corte da metade do valor do ree semestral do grupo. A decisão determinou ainda que o prazo para encerramento das atividades da ATI Antônio Pereira também não poderia ser prorrogado, de modo que os trabalhos do Guaicuy no território encerram-se em maio deste ano.
Na audiência de conciliação ficou acordado que tanto o GEPSA quanto o Guaiucy apresentarão, em 15 dias, cada qual uma proposta com o tempo e o recurso necessários para a finalização das atividades no distrito. Além disso, a Vale e o MPMG terão mais 10 dias para analisar as propostas.
Aliliane Veríssimo, que também integra a Comissão de Pessoas Atingidas de Antônio Pereira, relata: “Hoje nós estamos aqui no Tribunal de Justiça para reivindicar os nossos direitos, de ter ATI na comunidade de Antônio Pereira. É uma comunidade que sofre com a mineração e hoje a gente corre o risco de ficar sem a nossa ATI”. A moradora conta um pouco da situação vivida no território atingido pela Vale. “A comunidade sofre com o minério, antigamente a gente tinha poeira, hoje a gente tem minério… A gente se levanta com minério, a gente respira minério, a gente come minério”, indigna-se ela, que completa: “hoje há represália da empresa lá dentro. Comunicação nenhuma a empresa tem com a gente… Quando a gente vê, as coisas já estão acontecendo em cima da cabeça da gente, sem comunicação nenhuma com a comunidade”.
Aliliane Veríssimo durante manifestação. Imagem: Hariane Alves / Instituto Guaicuy
Maria Helena deixa ainda um recado para a população da capital de Minas Gerais. “Se Belo Horizonte também não abraçar a nossa luta, vai ficar sem água em pouco tempo, porque a mineração destrói tudo, ela mata a gente, mata animal, mata o meio ambiente. E depois vai sobrar o quê, para quem?”, alerta a atingida, que conclui: “O que nós queremos é simplesmente o direito de ter sossego, de viver num lugar onde nós escolhemos para morar”.
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