As funções começaram cedo no sábado, dia 15 de fevereiro, para os moradores e moradoras da aldeia Capão do Zezinho, do Povo Kaxixó, localizada em Martinho Campos. Num típico dia de verão, com céu azul e sol escaldante, a comunidade madrugou para organizar o 10º Festival do Pequi, com uma extensa programação cultural e um banquete de dar água na boca a qualquer fã do icônico fruto saboroso e espinhento do Cerrado. “Preparamos mais de trinta pratos que têm o pequi como ingrediente principal. Hoje é tempo de festa e fartura”, disse a enfermeira Karina Kaxixó, uma das organizadoras do evento.
Muitas semanas de preparo antecedem o festival, conta o médico Otávio Kaxixó, uma das lideranças da aldeia. “A festa, pra gente, começa um ano antes, quando mapeamos os pés que vão dar os frutos na próxima temporada. Na época de catar o pequi, convocamos as crianças para nos ajudar a colher. Depois, a turma responsável pela cozinha pensa nos pratos, experimenta as novas receitas e começa, muitos dias antes, a deixar todos os ingredientes prontos para o grande dia”, explica. De acordo com Otávio, os insumos das receitas são doados pelos moradores da aldeia. Já o que se vende durante o festival é usado para melhorias nas áreas comuns, como o galpão e o campo de futebol, além de colaborar para viagens coletivas que a aldeia organiza ao longo do ano.
A programação, pensada para gente de todas as idades, começou com os cantos entoados pelo povo da aldeia, seguidos das potentes falas das lideranças da comunidade e por um momento de oração. Então, os convidados e convidadas puderam aproveitar as pinturas corporais, as brincadeiras, a visita ao memorial e ao cruzeiro – dois pontos simbólicos da aldeia – e a confecção de saias de taboa. Tudo isso aconteceu enquanto a mesa de almoço e de degustação dos doces de pequi eram servidas em paralelo, fazendo qualquer um sair do festival satisfeito. “É um dia para brincar, cantar, rezar e apreciar os sabores”, ressalta Karina.
Participantes se servem durante Festival do Pequi. Foto: Daniela Paoliello/Guaicuy
O pequi, para o Povo Kaxixó, merece ser celebrado por simbolizar a fartura, a fertilidade e a ancestralidade. “Ele é um dos marcos principais da nossa luta e história, porque o nosso povo está no Cerrado, um dos maiores biomas do Brasil, onde o pequi brota. O pequi preenche nossos pratos e alimenta nossa gente há muitas gerações, afastando a fome. O pequi faz parte das memórias de infância, suas árvores são cenários de nossos rituais, seu gosto é gosto de pertencimento. Tem gente que prova o fruto, mas aqui, na nossa aldeia, a gente vive o fruto”, explica Otávio, emocionado.
Imagem destacada: Paulo Marques/Guaicuy
O que você achou deste conteúdo? Cancelar resposta 4o4b2i