Instituto Guaicuy, ao lado de indígenas Borum-Kren atingidos pela mineração predatória, integra teia da água e da terra em encontro emocionante, que reúniu povos negros e indígenas de diversas regiões do Brasil.
“Quilombo-aldeia de ideias”. É assim que, na voz da co-líder do grupo de Pesquisa e Ação em Contexto de Risco (Corisco), Capitã Pedrina, foi definido o “I Encontro Nacional Somos Corisco”. O evento foi realizado nos dias 24 e 25 de abril de 2025, na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), campus Pampulha, em Belo Horizonte, e teve o objetivo de construir alianças contracoloniais com acadêmicos e povos tradicionais de diversas regiões do Brasil.
Por meio, entre outras coisas, de uma articulação do Instituto Guaicuy junto ao Corisco, grupo vinculado ao Programa de Pós-graduação em Comunicação da UFMG, a moradora de Antônio Pereira, Dona Marli Rodrigues, o antropólogo Matheus Arcanjo e o cacique Danilo Borum-Kren participaram do segundo dia de encontro, como convidados especiais representando o povo Borum-Kren.
Na ocasião, foi realizada uma grande roda de conversa seguida de reuniões das teias de saberes, com temas ligados aos quatro elementos da natureza: terra – confluências e conflitos territoriais e mudanças climáticas; fogo – comunicações, conhecimentos, lutas e resistências afro e indígenas; água – educação intergeracional e produção de saberes que nutrem e curam e; ar – sonhos de mundos e alianças possíveis, memória e busca da união nas lutas.
A equipe do Guaicuy compôs as teias da água e da terra, considerando, especialmente, que os conflitos instaurados pela mineração predatória, em territórios como Antônio Pereira, estão diretamente ligados ao conflito fundiário e à destruição das águas.
Em processo de retomada, o povo Borum-Kren há muito tempo lida com os avanços da mineração sobre seu território e os bens que nele existiam em abundância, como a água. Esse foi um dos motivos que levou o cacique Danilo, Dona Marli e o pós-graduando Matheus a integrarem o “Somos Corisco”. “A nossa região já sofre com o processo da mineração há mais de três séculos. Então, a gente tá aqui pensando formas de estar no território e pensar outras formas de viver, de sobreviver”, afirma Danilo.
Participante da teia da terra, o cacique conta ainda como foi importante esse momento de partilha. “A gente vê ali vários outros povos e comunidades tradicionais, numa interação onde estava sendo debatidas várias pautas referentes ao território, questões do meio-ambiente, mudanças climáticas e cada povo tá ali levando a sua realidade”, relata o cacique Danilo Borum-Kren, que completa: “essa junção, esse momento ali de integração, é muito importante pra gente poder conhecer, poder articular e poder apoiar um ao outro”.
“Realizamos um evento gostoso e acolhedor, potente politicamente, grávido de efeitos de boniteza, de pensamentos e de práticas”, celebra a professora Luciana Oliveira, co-líder do Corisco. As discussões e propostas que emergiram no encontro foram enriquecidas pelas contribuições das mais diversas lideranças afropindorâmicas, ou seja, indígenas, quilombolas, negras e negros do Brasil, que, de acordo com o sábio Antônio Bisco dos Santos (Nego Bispo) estão interconectados, também, através da luta contracolonial.
Para o cacique Danilo, ter contato com essas outras realidades, que pensam a vida longe das questões impostas pela mineração, é fundamental. “Estar aqui é importante por isso, porque a gente começa a entender, ampliar os horizontes e entender outras formas de sobreviver no nosso território”, afirma ele.
Além do Instituto Guaicuy, ao lado do Povo Borum-Kren, participaram do evento os povos Kaingáng, Tuxá, Xakriabá, Pankararu, Pataxó e Xukuru-Karir, além da Casa de Caridade Pai Jacob do Oriente, da Guarda 13 de Maio, da Irmandade Os Leonídios, do Kilombu Manzo Ngunzo Kaiango, do Quilombo Vó Rita e do Boi Livre. Participaram também pesquisadoras e pesquisadores das Universidades Federais de Minas Gerais, do Tocantins, do Pará e do Rio de Janeiro e dos Institutos Federais de Minas Gerais, do Rio de Janeiro, de Pernambuco e do Ceará.
Conheça as lideranças afropindorâmicas que estiveram no evento
O que você achou deste conteúdo? Cancelar resposta 4o4b2i