O Povo Kaxixó foi reconhecido oficialmente em 2001, mas a gente vem lutando por esse processo desde 1982. Então, já são 43 anos de história. Em 2013, o território foi reconhecido como um território indígena, ocupado pelo nosso povo durante todos esses anos. Foi a partir desse reconhecimento que nós começamos a nos afirmar mesmo como um povo indígena. Nós retornamos. Fomos em busca dos rituais dos nossos anteados e voltamos a praticá-los, para reafirmar a nossa identidade e podermos falar sem medo que nós somos um povo indígena e que ocupamos esse território.
Com o rompimento da barragem da Vale, muitas pessoas deixaram de pescar no Rio Paraopeba e vieram para o Rio Pará, o que restringiu um pouco nosso o e afetou nossa relação com o Rio, porque agora tem muitas pessoas desconhecidas. Já as aldeias de Fundinho e Pindaíba, em Pompéu, foram atingidas mais diretamente, porque estão bem próximas à margem do Rio e ficaram sem poder ir nadar e fazer os rituais religiosos, como era costume; além disso, diminuiu a quantidade de peixes, influenciando a nossa alimentação. Nós estamos organizados e ativos na luta por reparação, formamos a Comissão do Povo Kaxixó e estamos junto das outras Comissões. Eu também faço parte da Instância Regional. Mas nos preocupa muito o que está acontecendo com o Rio Paraopeba, como está o nosso solo, a nossa terra, o nosso Cerrado.
Uma característica fundamental dos povos originários é a nossa relação com a natureza. Ela rege a nossa cultura, nosso modo de viver. O que nós acreditamos, o nosso propósito, os nossos valores, tudo é muito ligado à natureza. Nossa vivência é subsidiada pela natureza, então nós sabemos respeitá-la e cuidar dela. Eu acho que a resposta para essa crise climática que o mundo vem sofrendo está dentro das aldeias, nessa relação que nós estabelecemos. Nós retiramos da natureza tudo que precisamos, mas sem degradação, sem desmatamento, sem mineração – coisas que sabemos que acabam com o território. Tentamos preservar ao máximo, porque acreditamos na força que a natureza tem nas nossas vidas.
E não dá para ter vida sem demarcação do território. Como nós vamos sobreviver sem o território, que nos mantém vivos, mantém a nossa cultura, nos garante o espaço para viver, o alimento, a prática dos nossos rituais, como rear esses conhecimentos? Com esses impedimentos para a demarcação dos territórios, como a PEC do Marco Temporal, é impossível manter uma vida indígena presente. Aqui em Martinho Campos, nosso bioma é o Cerrado. O município vive da agropecuária. Onde que o município tem uma unidade de conservação do Cerrado, das nascentes de água? Não tem. Então, com a demarcação, o nosso território provavelmente vai ser o único espaço de conservação no município. Um local onde o Cerrado é respeitado, onde a vida acontece sem degradação ambiental. O território é a pauta principal na luta dos povos indígenas.
Mas eu gosto de sempre falar que nós estamos em busca do bem viver. Nós queremos harmonia, queremos conservação, queremos a natureza viva. Queremos ver o Rio vivo. Então, quem estiver interessado nas causas indígenas, busque conhecer os povos originários, conhecer a sua cultura, respeitar essas tradições, esses modos de vida, mas principalmente conhecer, interagir com essas pessoas, entender o processo de luta.
Essa é a minha mensagem neste Dia dos Povos Indígenas: conheça os povos originários do Brasil, respeite e ajude a preservar seus territórios, sua cultura e seus modos de vida.
Imagem: Paulo Marques/Guaicuy.
Nosso bem estar depende inteiramente de nossa relação das atividades humanas interagindo com o meio ambiente de maneira sustentável e não suicida contaminando a água,o ar ,o solo… Cuidar de nosso lar,o planeta ,em sua inteireza é vital para a sobrevivência! Os povos originários sempre tiveram harmonia com esse bem viver e a sociedade moderna tecnológica faz bem em respeitar e reconhecer como exemplares a consciência deles na preservação do equilíbrio climático, com os biomas e atividades humanas em todos territórios; até mesmo urbanos!